8 de dezembro de 2014

O POETA E O RIO PARDO



1
Para quem quiser saber
Das coisas que vou contar
Peço somente atenção
Para depois me julgar
Se só lhes digo a verdade
Ou quero lhes enganar.

2
É certo, caros amigos,
Muitos me acham mentiroso;
Principalmente, se falo
Do que mexe com o teimoso
Ou se fere a feia imagem
De quem é muito orgulhoso.

3
Mas isso não vem ao caso...
Qualquer um pensa o que quer...
Quem quiser acreditar
Que acredite de boa fé
Ou então vá perguntar
Para o finado Tomé.

4
Acredite minha gente,
Um rio conversou comigo.
Falou de seu sofrimento,
Pois corre grande perigo
E precisa da atenção
Urgente d’um povo amigo.

5
É do Rio Pardo que falo
Com seu valor relevante
Do qual eu fiquei sabendo
Que eu mesmo sou ignorante
Se o caso é preservar
Algo de muito importante.

6
E assim ele me contou
A sua solene história:
— “Amigo, preste atenção:
Nem só de prazer e glória
Vivem os seres em sua
Curta e louca trajetória.”

7
“Por vezes agente encontra
Alguns percalços na vida
Que deixam marcas profundas
De tanta dor e ferida
E nos levam o vigor
E a paz tão pretendida.”

8
“Caro amigo, sou matéria
Essencial pr’os seres vivos.
Em quase tudo estou
Com meus princípios ativos
Pra dar vida aos produtos,
Teu alimento, teus cultivos.”

9
“Das minhas águas tão pardas
Quanto o pardo da juriti,
Fiz-me fonte de sustendo.
Muitos peixes forneci
Também a sede sacei
E a todos sempre servi.”

10
“Nunca exigi nada em troca
Pelo que fiz e ainda faço.
Mas hoje apenas reclamo,
Pois já me veio o cansaço,
Vendo muitos insensíveis
Diante da agonia que passo.”

11
“Já não vejo mais respeito
Aos recursos naturais.
São tantos esgotos fétidos,
Dejetos nos mananciais,
Queima de matas ciliares...
Chega! Não suporto mais.”

12
“São tantos rios que morreram
Nesse descaso tirano
Que chego a me ver vazio
Como o vazio do humano
Pois eu serei mais um leito
A secar a qualquer ano.”

13
Dito isso, o rio se calou.
E no meu peito a tristeza
Fez morada com revolta
E logo me deu clareza
Para ver muito melhor
O valor da Natureza.

14
O Rio Pardo nasce em Minas
E deságua em Canavieiras
Cá no estado da Bahia.
Suas águas e corredeiras
Irrigam muitas cidades
E populações inteiras.

15
Os ribeirões de Veredas
E Salitre, seus afluentes,
Com os rios Macarani
E Maiquinique adjacentes,
Com rio São João do Paraíso,
Completam as suas vertentes.

16
Santo Antônio foi seu nome
No período colonial
Quando o colonizador
Spinoza, do litoral,
Iniciou sua expedição
Em busca do vil metal.

17
E não podemos esquecer
Dos rios Catolé e Verruga
(Este bastante poluído)
Pelo Rio Pardo têm fuga
Rumo ao Oceano Atlântico —
Berçário de tartaruga.

18
Povoavam nossa região,
De mata alta e de cipós,
As tribos guerreiras
De Aimorés e Mongoiós,
Tapuias e Tupinambás
E os valentes Pataxós.

19
Um rio conversou comigo.
Acredite, minha gente!
Expôs sua angústia e dor.
E desse dia para frente
Passei a cuidá-lo melhor
E a tratá-lo diferente.

20
Hoje sou ecologista
(Um defensor ambiental)
Defendo os nossos rios
E a preservação florestal.
Pois não quero que o planeta
Sofra uma seca global.

 
             #
Cândido Sales/BA
XXIV/XI/MMXIV

18 de novembro de 2014

Participação na antologia "Os mais belos Poemas de Amor" - CBJE 2014


O poema Da velha mala 
também foi selecionado como um dos melhores poemas de 2014
 para a coletânea Panorama Literário Brasileiro.

8 de setembro de 2014

Sobre a 4ª Virada Cultural de Bom Jesus da Lapa



No dia 05/09/2014 estive no Oeste baiano, onde pude prestigiar a 4ª Virada Cultural de Bom Jesus da Lapa. Cujo evento, realizado de 05 a 07 de setembro, na Praça Marechal Deodoro da Fonseca, consistia em promover shows, dança, teatro, cinema, exposição de artes visuais, apresentação das manifestações populares dos quilombos, oficinas produtivas de estética afro, máscaras em argila, artesanato em fibra de bananeira, feira de agricultura familiar e artesanato, valorizando a cultura do entorno do rio São Francisco.

Na oportunidade, conheci o “espetacular” trabalho da Cia de Teatro Mistura de Ibotirama — trupe bem entrosada e de grande habilidade em interagir com a plateia — que se apresentou em plena praça pública, conquistando a atenção de todos. Gostei da boa adaptação de “O Auto da Camisinha”, que aborda com criatividade e caráter educativo a importância do uso do preservativo nas relações sexuais, orientando os espectadores quanto ao sexo seguro e a prevenção das DSTs.

Fiquei extasiado com a qualidade das atividades desenvolvidas. E percebi, através da participação da comunidade local, que muitos ficaram mais cientes do valor inestimável da nossa cultura popular, da nossa identidade cultural; que a arte deve ir à praça, onde o povo está. Pois, como disse Castro Alves: “A praça é do povo, como o céu é do condor”.

Com certeza, este projeto também foi abençoado pelo "poeta abolicionista" e o nosso Bom Jesus da Lapa.

3 de abril de 2014

Vídeo: Querido Rio Pardo


Este vídeo, feito com a turma de 7ª Série/8º Ano do CEPM sobre o Rio Pardo, destaca a importância desse rio para as cidades que se formaram ao longo do seu curso. Observa ainda a presença tradicional das lavadeiras de roupas; as dificuldades no período de seca na região de Cândido Sales - BA e Machado Mineiro - MG; a utilização de suas águas para irrigação;  o modo como essa água é tratada para o consumo humano; e a necessidade de preservação do nosso Pardo.

Filmagem realizada em 2013. Trilha sonora com a música "O Poeta e o Sabiá" (de Gilmar Pereira Lima & Nilson Almeida) na belíssima voz de Fabiana Santos.

Parabéns, Kelvin Naoki & Everson (apresentadores) e toda a equipe! Essa turma é nota dez!