16 de maio de 2006

ÚLTIMA CONFIDÊNCIA

A minha vida,
Flor margarida,
É como fumo que esvai
Pelas narinas do tempo;
É como o sopro do vento
Que não sabe pr’onde vai...

Vaga minh’alma tão triste
Por um deserto medroso!
E a solidão fria persiste
Pelo meu mundo assombroso!

Nesse existir transparente,
Em que me vejo afundando,
Guardo apenas o presente
Do teu perfume exalando.

A minha vida,
Ó flor amiga!
É como o sol do sertão
Que queima sem piedade;
É como a dor da saudade
Que arde sem ter compaixão.

As formas exatas d’antes
Não se repetem em mim:
Os sonhos voaram distantes,
Buscaram outro jardim.

Outrora, via minha vida
Em verde-bálsamo deitada.
Hoje sou poeira perdida
No vão esquecido da estrada.

E desta vida,
Ó flor querida!
Resta-me apenas deixar
Tudo sangrar, fenecer...
Sem jamais ter que sonhar...
Somente morrer... morrer.
Poema extraído do livro "Vendavais" de Gilmar Pereira Lima

14 de maio de 2006

CANÇÃO ALÉRGICA




O tom desafinado dos motores,
Diante do olhar primaveril,
Percorre os horizontes de concreto.

E s p a n d e - s e . . .
E s p a n d e - s e !
Confunde-se,
Perante a poesia,
Com a melodia melada
Dos esgotos – rios-esgotos.

Oh! Quantos albatrozes
Povoam o desértico olhar...!

No subúrbio,
Um pássaro voou
De um outro morto;
Um ébrio cachorro caiu
Bebendo água do rio.

Oh! Quanta evasão
Nos frios acordes da “modernagem”!

Da prima ao bordão
Não havia nenhuma harmonia;
Mas o vento insistente
Soprava uma nova canção:
Em dias-sol
Em lixos-lá
Em vidas-si
Em mundos-dó
Embora a tristeza ainda estivesse
Presente em cada olhar.

Oh! Quanta hipocrisia
Se fez moderna poesia!


Poema extraído do livro "Vendavais" de Gilmar Pereira Lima